sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Depressão Crônica, que vai e volta...tentando entender.

Já descobri que sou uma MULHER BARÔMETRO, que as variações atmosféricas me atingem de um modo muito marcante. É só uma tempestade começar a se armar que tenho ataques de sonolência, mal estar e tudo de ruim que acompanha essa turbulência meteorológica e pessoal.


Agora, depois de um período conturbado, em que a fluoxetina parece não funcionar mais para me ajudar a viver estamos (com ajuda do meu psiquiatra) testando um novo medicamento e novas dosagens.
É um período em que o desejo de melhorar pode mascarar os reais efeitos do remédio...e tenho que prestar muita atenção para saber distinguir se estou melhor ou se estou com vontade de achar que estou melhor.


Há muito tempo já aprendi a mandar à merda (em silêncio, com expressões faciais, etc) aquelas pessoas que diante da palavra depressão dizem, ai deixa disso, vai passar, sai dessa cama, faz uma viagem...ou pior ainda vêm com insinuações religiosas ou de auto-ajuda...maldita boa intenção, vá para o inferno juntar-se às outras boas intenções que lá habitam.


Além do efeito devastador da depressão no corpo e no ânimo, a culpa fica martelando o tempo todo. Culpa por tudo, desde não fazer a lição de casa, não tomar banho até a fome que assola o mundo.


Comigo ocorre o fenômeno da mudez seletiva, não consigo telefonar e conversar com pessoas queridas, não tenho o que dizer, tenho medo de que me perguntem como eu vou e eu não saiba responder.  Só consigo conversar com meu psiquiatra, afinal pago para falar de mim e tentar sair do sarcófago.
Consigo dizer bom dia aos empregados do prédio e até trocar palavras simpáticas com estranhos...mas isso não é conversar, é só troca de civilidade. Também consigo trocar ideias com amigos virtuais. Nesses tempos escuros para mim a internet e as redes sociais são uma tábua de salvação. Consigo tocar um blog sobre surdez, lendo e selecionando notícias sobre o assunto, estou até conseguindo fazer este texto. E me pergunto será efeito da dose dupla do novo antidepressivo? Espero sinceramente que sim. Já aprendi ao longo de tantos anos que não quero me livrar dos remédios, quero é encontrar um remédio que me ajude a viver. Que me ajude a não desejar desligar o botão e simplesmente deixar de ser.


O assunto suicído é sempre um parceiro da depressão, e às vezes aparece como forma de desejo de expirar, desejo de acabar como quem apaga a luz, nada de suicídos dramáticos, sangrentos, matéria de capa e de investigações policiais. Porque a velha culpa também rege a vontade de desaparecer. Desaparecer mas sem causar problemas para os outros. Morrer sem manchar a calçada de sangue. Sem despertar nenhuma culpa nos vivos. Sem que os vivos fiquem queimando os neurônios perguntando o que eu deixei de fazer?


Depressão, como toda e qualquer doença é um  problema pessoal, mas como somos seres gregários, por escolha ou falta de opção, nossos atos se refletem nos outros. Daí a vergonha de  passar meses sem telefonar para pessoas queridas, a vergonha de passar dias sem querer sair de casa, sem trocar de roupa, sem conseguir passear, me divertir, ir ao cinema, fazer ou receber visitas. Um sono absurdo, uma fome feroz (falta de serotonina?), falta total de qualquer sentimento de prazer, abandono de tudo aquilo que a gente sempre gostou...e tudo isso acompanhado de uma enorme dor, uma dor penetrante, gritante, indefinida. Falta de qualquer esperança de saída, de futuro.  E o click de apagar, ideia constante.
 O simples fato de poder escrever sobre isso me consola, estou podendo fazer alguma coisa, agora estou ligeiramente viva, batucando nas teclas. Espero que dure essa trégua.

20 comentários:

  1. acredite que eu sei bem o que é isso! Espero que hoje vc esteja bem melhor! Mas extendo meu carinho e entendimento

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  2. Estou impressionada, vc me descreveu...

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  3. É incrível como nos descobrimos em um mesmo mundo com os mesmos sintomas e pensamentos. Sou uma depressiva e desde ontem me encontro muito abatida, com aquele aperto no peito que vai nos tirando o ar. As palavras são poucas porque até isso perde o sentido...

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  4. escrevo neste blog para compartilhar sintomas e sentimentos, para que a gente não se sinta tão só, para que a gente saiba que não somos estranhos e inventamos doenças...um bom psquiatra e antidepressivos têm me ajudado a superar isso tudo e tocar a vida.

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    1. Obrigada por compartilhar. Isso fez eu não me sentir tão só tão estranha tão sozinha

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  5. Muito bom o seu texto, reflete tudo que a maioria de nós sente, eu falo com todo muito é ridículo, não fico calada um segundo, e no mais é tudo igual. Concordo com vc, o remédio e necessário e sinto que é isso o que mais causa incompreensão...

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  6. Cada comentário que eu leio vejo que não estamos sós e nem somos bichos raros...essa doença, esse sentimento atinge muitas pessoas...

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  7. Tenho isso e é difícil encontrar alguém que compreenda. Geralmente quando começo a falar as pessoas me olham estranho, como se fosse contagioso e depois sempre se afastam.Sou o tipo de pessoa solitária e fechada e geralmente excluída de reuniões de amigos e familiares, e sei que sou eu que provoco esta reação.

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  8. acho que se os outros não entendem, e é difícil mesmo o melhor a fazer é procurar tratamento médico, um bom psquiatra saberá o que fazer para te ajudar. Ficar isolado pode até ajudar mas ficar escondido sofrendo não é justo. Procure ajuda, tem medicamentos que podem melhorar a situação.

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  9. isso que acabou de escrever reflete a situação que vivo fazem 4 anos no minimo minha Mãe viva essas crises diariamente,muito por problemas familiares de saúde, já não sei mais o que fazer,gostaria mesmo de conversar com pessoas que tem experiencia com a maldita depressão.

    https://twitter.com/_DiegoMuller

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  10. cuidese com psiquiatra e medicamentos indicados...é uma doença dificil mesmo...desejo que consiga sobreviver como eu...

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  11. Os fardos mais pesados vêm para os mais fortes!
    O pior da depressão é que ficamos "marcados", as nossas atitudes são julgadas o tempo todo, somos vigiados e excluídos, principalmente porque todos sabem que a história pode se repetir a qualquer momento... O triste é que independente do que façamos ou pensamos os sentimentos depressivos são incontroláveis. Os remédios ajudam muito... mas nos coloca em um mundo cheio de limitações, sociais e profissionais.
    Quando tive a primeira crise eu trabalhava a 10 anos na empresa, assim que retornei ao trabalho e acabou minha estabilidade me demitiram. Consegui outro trabalho e após 2 anos durante o exame periódico ...falei a verdade...quando souberam que tive depressão limitaram o meu acesso a várias áreas de trabalho e na primeira oportunidade me demitiram e eu estava tomando os remédios e bem controlada... O pré-conceito ou cuidado dos outros nos deixa ainda mais frágeis. O importante é termos fé em Deus e sabermos que somos muito importantes. Os fardos mais pesados vêm para os mais fortes! O JOHREI da Igreja messiânica me ajudou muito, 5 anos sem crise... apesar dos sintomas estarem sempre rodeando.

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  12. gosto de ver os comentários,sinto que somos muitos, que nao estamos sós e isso é importante...temos que buscar trtamento com médicos psquiatras que podem nos ajudar...e ignorar comentários preconceituosos de quem nao entende a doença.

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  13. Essa luta que não para.
    Somente nos sabemos desta dor???

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  14. essa luta é coisa de todo dia...somos eternos sobreviventes...

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  15. Este comentário foi removido pelo autor.

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  16. ah, eu estou tão triste. tô tendo mais uma crise depressiva... vem se tornando constante nesses ultimos tempos. queria dar um abraço em você nesse momento. de certa forma, ler isso me confortou um pouco. obrigada.

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  17. ah, eu estou tão triste. tô tendo mais uma crise depressiva... vem se tornando constante nesses ultimos tempos. queria dar um abraço em você nesse momento. de certa forma, ler isso me confortou um pouco. obrigada.

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  18. Não deixe a tristeza vencer...procure ajuda de psiquiatra e saiba que a doença tem controle. Um abraço e coragem.

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