Eu e a depressão de verão>
Sampa, agosto/2004>
Texto recuperado em 2009 porque tudo o que está escrito continua válido e funcionando...estou feliz porque o friozinho de Sampa me devolveu a alegria de viver e a disposição. E novamente postado em janeiro de 2011 porque ...
Eu me vejo como uma pessoa inteligente, criativa, batalhadora, com gosto pelo estudo e pela pesquisa.
Por outro lado não consegui realizar muito nas possíveis carreiras que me fascinam: bailarina, musicista, cineasta, fotógrafa, tradutora, designer, escritora, professora, dona de sebo ou de loja de artesanato... e outras mais. Sempre dizia a meu psiquiatra de toda vida: "Existe algo em mim que me sabota".
Minha vida escolar desde o jardim da infância sofria altos e baixos; de primeira da classe passava a uma média de 35, sendo que na época a nota maior era 100.
No ginásio e colégio notas apenas regulares contrastavam com a opinião de professores que me consideravam inteligente.
Na USP consegui terminar os cursos fazendo pouquíssimos créditos por semestre.
Apesar da surdez precoce (aos 19 anos) consegui e mantive um emprego estável e relativamente bem pago. Consegui ser uma boa bancária aplicando criatividade e inteligência nesse ir e vir de números e papéis de antes do computador.
Tinha planejado para a aposentadoria um paraíso feito de pós graduação, música, artes, viagens, leitura e algum trabalho social como voluntária.
Mas a realidade me sabotou.
Com a ajuda de meu psiquiatra e agora amigo fui separando o que era doença física e o que era psicológico. TPM, menopausa, enxaqueca, fibromialgia, hipotiroidismo e outras coisas do gênero foram tratadas pelos respectivos especialistas.
Descartados esses problemas sobrou ela: A DEPRESSÃO. Várias tentativas de tratamento mais ou menos eficientes e muitas recaídas. Minha cabeça ia em mas meu corpo se recusava a acompanhar.
Como numa colagem fui juntando dados e aos poucos formando uma figura multi facetada mas objetiva: o assassino que me rondava era o calor, o verão quente e úmido que traz alegria de férias à maioria das pessoas.
Para confirmar essa percepção bastaram alguns verões insuportáveis em Buenos Aires. Eu havia escolhido essa cidade por seu inverno delicioso, geladinho e cheio de atrações culturais.
A depressão e a enxaqueca voltavam a me atacar com ferocidade e eu levava quase seis meses para me recuperar.
Tudo isso misturado a 3 cirurgias com anestesia geral e outras 3 com cirurgia local, tratamentos para fibromialgia, enxaqueca, menopausa, rinite alérgica resultando em ganho de peso, acabou com meus planos e a alegria de viver.
Todos os meus problemas de saúde pareciam pertencer à mesma familia e se não eram diretamente causados pelo verão eram despertados por ele. Ao notar que aplicações de gelo melhoravam minhas dores no corpo e enxaqueca e que o inverno portenho com temperaturas de 5 graus centígrados ou menos devolviam minha vitalidade comecei a pesquisar conexões entre calor, umidade e depressão.
Aos poucos fui achando uma possível resposta. Por incrível que pareça, vivendo num país com vastas áreas de clima quente e úmido a resposta veio dos Estados Unidos da América : especialistas em depressão sazonal de inverno começaram a receber pacientes que relatavam os sintomas de depressão sazonal mas com sinal trocado.
Não eram os dias curtos e escuros de inverno mas os dias quentes e úmidos do verão que causavam sofrimento e mal estar.
Assim o fantasma nebuloso que atacava algumas pessoas começou a ter seus contornos mais definidos: para os norte americanos trata-se de"Summer SAD" ou seja distúrbio afetivo sazonal de verão.
Com a descoberta fiquei triste e feliz. Triste pelos anos e anos de sofrimento sem explicação e feliz porque minhas suspeitas se confirmaram.
Havia algo me sabotando mas não era minha insegurança ou baixa auto estima ou mesmo preguiça...era o verão, o calor, a poluição atmosférica que enlouqueciam meu organismo, provocando um caos doloroso em minha vida, cujo nome genérico é depressão.
Como muitas áreas da medicina esta pesquisa apenas começa mas para gente como eu é um avanço tremendo. Por isso quero compartilhar textos que encontro e também quero aprender mais para melhor minha qualidade de vida e de outras pessoas com problemas semelhantes.
Se você quiser saber mais é só colocar no google: "summer sad", "summer depression" "Norman Rosenthal" (o responsável pela pesquisa sobre depressão sazonal de inverno e de verão)...
Eu mesma tenho uma enorme coleção de textos porque estudei o problema e li tudo que aparecia sobre o assunto, na verdade não há muito material sobre o tema.
E o tratamento para pessoas com esse distúrbio? Tratamento com psiquiatra, se for o caso antidepressivos e se possível mudança para lugar de clima frio ou até mesmo fazer de sua casa um ambiente mais frio com ventiladores, ar condicionado, janelas especiais, etc.
O mais importante: não se sinta culpada(a) de não gostar do verão como a maioria das pessoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário