quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

PABLO VILLAÇA escreve sobre depressão.


A depressão se manifesta de diversas formas: a sensação profunda de tristeza, desânimo e desesperança é, talvez, a mais comum, mas não a única delas. Inimiga sorrateira e hábil em desenvolver novas estratégias quando encontra um de seus caminhos impedido, a depressão é um camaleão cujos disfarces são as diferentes maneiras que adota para destruir suas vítimas.
Ao longo dos anos, escrevi diversas vezes sobre minhas experiências com a doença. Nos últimos meses, porém, o assunto sumiu de meus textos por um motivo óbvio: depois de encontrar uma nova (e excelente) psiquiatra e dar início a um tratamento com novos medicamentos, experimentei uma melhora considerável.
(Sim, já passei por períodos de remissão que invariavelmente acabaram sendo frustrados pelo retorno dos sintomas e, portanto, sempre encaro as melhoras com um otimismo cauteloso. Desde que escrevi este texto -https://www.facebook.com/pablovillaca01/posts/693529250752304 -, no qual comentava um novo tratamento bem sucedido, sofri uma piora significativa e voltei a buscar uma nova médica.)
No entanto, são cinco da manhã e aqui estou novamente escrevendo sobre minha velha adversária.
Parte de mim, confesso, admira a perseverança deste mal e sua inteligência (se é que posso atribuir racionalidade a um desequilíbrio químico): embora a tristeza característica não tenha retornado, nas últimas semanas venho percebendo um novo tipo de manifestação que vem se tornando mais intensa.
Pensamentos fatalistas recorrentes.
"E se algo terrível acontecer com as crianças?"; "Como será que morrerei? Está próximo?"; "Tenho trocado palavras e nomes; será sinal de Alzheimer precoce?"; "Minha carreira está chegando ao fim? O que farei quando chegar?"; e por aí afora.
Este tipo de pensamento obsessivo e pavoroso pode me atingir nos momentos mais inesperados - e quem convive comigo provavelmente já deve ter me visto sacudindo subitamente a cabeça como se algo tivesse entrado em meus olhos ou se uma mosca estivesse me perturbando. É um gesto quase involuntário; uma manifestação física do esforço para arremessar aquelas imagens para fora da mente. O curioso - e o indício de como transtornos obsessivo-compulsivos podem se desenvolver - é que funciona: ao menos por alguns instantes, o pensamento se dissipa.
Até retornar com uma imagem ainda mais aterrorizante.
A partir daí, vêm "ideias" brilhantes do tipo "Se eu me matar, não estarei aqui para sofrer caso algo ocorra com alguém que amo" - o que, por sua vez, me obriga a buscar razões contra o suicídio.
Porém, ainda que a frase anterior soe dramática, como se eu estivesse sempre tentando me convencer a não me matar, não há razão para alarme. Não estou prestes a. É um conflito momentâneo; ao contrário do que descrevi no post que linkei mais acima, não me encontro mais num estado psicológico/emocional propenso ao autoextermínio.
Não, o objetivo deste post é duplo: o primeiro, egoísta, é permitir que funcione como um grande sacudir de cabeça, expurgando com mais eficiência as ideias que me fizeram rolar na cama por horas até finalmente desistir de dormir e levantar às cinco da manhã; o segundo é descrever um processo que, estou certo, é comum a muitos companheiros de depressão e, assim, ressaltar mais uma vez que não estão sozinhos.
E lembrar que buscar ajuda profissional é sempre a maneira mais eficaz de enfrentar a doença.
Sigo com os pés firmes no chão. Torço para que vocês também. A luta vale a pena.

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